Naquela manhã, Catarina e Carlos estavam sentados no jardim do Royal Savoy, à sombra de uma linha de palmeiras muito altas, olhando o vasto oceano. O casal, ela portuguesa, ele inglês, discutia, serenamente, sobre quem tinha sido o autor de um determinado feito histórico. Nem mais nem menos que a descoberta da ilha da Madeira. Sim, aquela mesma onde agora estavam a contemplar o mar. Entre factos e lendas, difíceis ou mesmo impossíveis de separar, o tema justificava-se: terá sido um inglês ou um português a alcançar primeiro aquela terra paradisíaca e desabitada, em pleno Atlântico Norte? Foi Robert Machim, comerciante britânico, no início do século XV ou João Gonçalves Zarco, o navegador lusitano, poucos anos mais tarde?

 

Carlos atribuía a proeza ao seu conterrâneo Machim. Mas Catarina dava todo o mérito a Zarco. Não por acaso, o local servia-lhes de inspiração: o Royal Savoy era a entrada num mundo aristocrático “very british”, um digno representante da histórica presença inglesa na ilha da Madeira. Mas o resort também era uma verdadeira imersão no Atlântico dos Descobrimentos portugueses, com acesso privado ao mar, vistas deslumbrantes sobre a baía do Funchal e 2 piscinas oceânicas.

 

Enquanto passeavam pelo terraço, envolto num frondoso jardim tropical, Catarina contou ao seu marido como, ao serviço do Rei D. João I de Portugal, João Gonçalves Zarco se preparava para explorar a costa de África rumo à Guiné e uma tormenta o levou até à ilha de Porto Santo e daí, mais tarde, até à Madeira.

 

Carlos ficou surpreendido com o relato. Curiosamente, também Robert Machim tinha chegado ali conduzido por uma intempérie.... Ambos se riram da coincidência, até porque, como podiam confirmar, aquele arquipélago goza de um clima ameno o ano inteiro, o que de certa forma protege e conquista todos os que o visitam. Mas o motivo da viagem do mercador era outro: fugir com a sua amada, uma dama inglesa que estava prestes a casar contra sua vontade - sem o dizer, Carlos identificava-se de alguma forma com este lado aventureiro do seu compatriota.

 

A conversa prolongou-se durante o almoço, no restaurante junto às piscinas. Catarina sugeriu que ambos pedissem pratos da saborosa gastronomia regional. O inglês acedeu de bom grado e, no fim, elogiou o serviço, “digno de uma corte”.

 

Em seguida, porque a discórdia sobre o achamento da Madeira se mantinha, foram à procura de livros de história da ilha na tranquila e confortável biblioteca do resort. No caminho, chamaram-lhes a atenção os quadros, esculturas e peças de mobiliário que pontuavam os espaços do hotel. Obras vindas dos quatros cantos do mundo, testemunhos da diversidade e riqueza cultural de regiões por onde o império português se estendeu.

 

Instalados em grandes poltronas, no melhor estilo e conforto inglês leram sobre a epopeia de João Gonçalves Zarco, navegador e responsável pelo povoamento e administração da ilha e, mais tarde, o 1º Capitão-donatário do Funchal. Mas também encontraram relatos da viagem de Robert Machim, comerciante, marinheiro ou simplesmente aventureiro, até uma ilha sem habitantes no meio do Atlântico, acompanhado de uma senhora inglesa de alta linhagem e guiado, sobretudo, pela paixão.

 

Sem chegar a acordo sobre o tema, decidiram fazer uma pequena caminhada até ao centro, à descoberta da vida e da memória da cidade – a Zona Velha, a Marina, o Porto de Cruzeiros, os Museus – e, quem sabe, da resposta definitiva para a sua grande questão.

 

Apreciando os jardins floridos, as praças e as esplanadas do Funchal, Catarina encaminhou Carlos até à estátua erguida em homenagem a Zarco, como descobridor e povoador da Madeira. O inglês, diplomaticamente, apreciou a obra. E convidou a sua esposa a reparar agora nos vários testemunhos da arquitetura colonial inglesa que se encontram na cidade e deu particular relevo à outrora residência pessoal do Cônsul de Inglaterra Henry Veitch erguida por volta de 1830. Local onde, mais tarde, funcionou a Casa do Vinho Madeira, um dos ex-libris da ilha.

 

Eram quase 5 da tarde. Como Catarina não dispensava a hora do chá, regressaram ao Royal Savoy. A decoração da sala, bem ao gosto britânico com os clássicos tecidos e padrões floridos, transportou-os de novo para terras de Sua Majestade. Mas, puxando dos seus galões, Catarina lembrou que quem levou o chá para Inglaterra foram os portugueses, mais precisamente, D. Catarina de Bragança, no reinado de D.Carlos II.

 

Na despedida da tarde, depois de assistirem a um magnífico pôr do sol da varanda da sua suite panorâmica, desceram ao bar, o local preferido de Carlos. Tudo naquele espaço fazia lembrar um exclusivo clube inglês. Mas na hora de escolher uma bebida, só podiam eleger um vinho Madeira, símbolo máximo da relação secular entre madeirenses e britânicos, apreciado por Churchill e citado por Shakespeare. Era um raro e muito antigo Malvasia. Foi então que chegaram a acordo. Em vez de continuar às voltas com a questão de quem chegou primeiro, decidiram brindar à felicidade de todos os que continuam a descobrir a Madeira.

 

No final da estadia, ambos assinaram o livro de hóspedes do hotel. Para a história ficou registado: Catarina de Bragança, Infanta de Portugal, Rainha-Consorte de Inglaterra e Carlos II de Inglaterra.

Afinal, Catarina e Carlos sentiram-se como dois verdadeiros reis.